Com alma copeira, o Corinthians voltou a levantar o Paulistão após seis anos, travou um feito histórico do rival Palmeiras e mostrou que, mesmo em crise, ainda sabe competir como poucos.
29/03/2025 12h00 .- Atualidade/Opinião
Na noite desta quinta-feira, o Corinthians sagrou-se campeão paulista pela 31.ª vez, consolidando-se como o maior vencedor da história do torneio. O empate por 0-0 na Neo Química Arena, somado à vitória por 1-0 no jogo da primeira mão, no Allianz Parque, foi suficiente para selar uma conquista que não surgia desde 2019. Se não foi um espetáculo técnico, foi pelo menos uma vitória construída com disciplina, superação e alma — ingredientes que sempre estiveram no ADN corinthiano.
O desfecho da final teve todos os ingredientes de um clássico decidido no detalhe. E a estrela da noite foi Hugo Souza. O ex-Chaves, que já havia defendido uma grande penalidade do Palmeiras na fase de grupos, voltou a ser decisivo ao travar a cobrança de Raphael Veiga aos 74 minutos — lance que poderia ter mudado completamente o rumo da partida.
Não foi apenas uma defesa; foi o momento-chave da final. E Hugo sabia disso: “Nem nos meus melhores sonhos eu imaginava isto”, disse no final da partida. “O melhor roteiro que eu poderia sonhar”, afirmou.
“Eu mais do que ninguém queria ganhar este jogo, mais do que ninguém queria marcar o golo, queria ser campeão”, declarou Veiga. “Podem dizer o que quiserem de mim, mas nunca fui omisso em decisões. Bola para a frente”, reiterou.
A partida, em si, teve poucos momentos de brilho. Os dois rivais protagonizaram um duelo duro, marcado por disputas físicas e escassas oportunidades claras. O Corinthians, com a identidade combativa de Ramón Díaz — muito inspirada no futebol argentino — controlou os espaços, impôs o seu ritmo e neutralizou o Palmeiras, especialmente através de uma exibição destacada do lateral Angileri, que anulou Estêvão, e de Carillo, motor do meio-campo alvinegro.
Já o destaque negativo do Corinthians vai para Félix Torres. O central equatoriano até realizou uma primeira parte consistente, mas, aos 67 minutos, derrubou o avançado Vitor Roque dentro da área, cometendo a grande penalidade que viria a ser defendida por Hugo Souza. Este lance gerou ainda a expulsão do treinador Abel Ferreira, indignado com o facto de o central corinthiano não ter recebido o segundo cartão amarelo na ocasião. Contudo, isso rapidamente mudaria, já que, poucos minutos depois, Félix Torres voltaria a cometer uma falta dura sobre Vitor Roque e, desta vez, acabaria por ser justamente expulso.
A melhor oportunidade surgiu apenas aos 98 minutos, num contra-ataque rápido em que Yuri Alberto e Memphis Depay tabelaram com precisão, obrigando Weverton a uma defesa espectacular. Mas a cena que marcou o final do jogo foi mesmo a provocação de Memphis, que, aos 89 minutos, equilibrou-se com ambos os pés sobre a bola. A provocação gerou uma confusão generalizada e duas expulsões — José Martínez, do Corinthians, e Marcelo Lomba, suplente do Palmeiras.
Palmeiras: sem ideias, sem brilho, sem título
A frustração de Abel reflete o momento do Palmeiras em 2025. Apesar do plantel qualificado e do trabalho longevo da equipa técnica, o desempenho tem estado abaixo do esperado.
O Verdão, que procurava um inédito tetracampeonato consecutivo na era profissional, foi novamente vítima da sua própria limitação criativa. A equipa até competiu, mas viveu de pressões e bolas longas. Ao longo da decisão, forçou jogadas pelo lado direito, sobrecarregando Estêvão, e falhou em integrar Vitor Roque no jogo. Quando a construção não flui, sobram passes para trás e toques laterais — falta ousadia, falta confiança, falta jogo colectivo.
“Perdemos a eliminatória em casa”, disse um resignado Abel Ferreira durante coletiva de imprensa, referindo-se ao desaire na primeira mão. Em 2025, o desempenho do Palmeiras tem ficado aquém das expectativas, tanto no plano individual como no colectivo. O plantel é forte, a equipa técnica tem crédito, mas é preciso mais do que passado e esforço. É preciso futebol. E o Palmeiras, neste momento, não está a jogar bem.
O título ficou com quem mais o mereceu. Mesmo em meio a problemas internos, dívidas e suspeitas de má gestão, o Corinthians mostrou-se uma equipa mais competitiva, mais preparada para o momento decisivo. Emiliano Díaz, adjunto e filho de Ramón, resumiu: “O grupo sofreu muito, mas merecia. Sabemos de onde viemos e o que lutámos para chegar até aqui.”
O Corinthians, mesmo sem encantar, venceu porque soube competir. E, num clássico deste tamanho, muitas vezes isso basta.
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