Muito antes de Jorge Jesus, outro português ousou comandar o Flamengo. Em 1950, celebre Cândido de Oliveira trocou o jornalismo pelo banco de suplentes do clube carioca, numa experiência curta, mas histórica.
25/03/2025 12h00 .- História
Figura incontornável da história do futebol português, Cândido de Oliveira deixou a sua marca em diversas funções dentro do desporto-rei. Foi jogador, treinador, selecionador nacional, dirigente e jornalista. O seu legado atravessa gerações, e a sua breve passagem pelo Flamengo, em 1950, insere-se como um dos momentos mais peculiares da sua ilustre carreira.
Em 1950, durante a sua cobertura do Campeonato do Mundo de 1950, no Brasil, pelo jornal “A Bola” (do qual foi fundador), Cândido foi abordado pelo Flamengo, que lhe ofereceu o cargo de treinador. O desafio era aliciante, e Cândido aceitou, tornando-se o primeiro treinador português do clube carioca quase 70 anos antes da chegada do “Mister” Jorge Jesus no Rio de Janeiro.
O início da sua trajetória com o Flamengo foi promissor, estreando-se a 10 de setembro daquele ano com uma vitória expressiva por 4-0 sobre o Canto do Rio. Contudo, a formação comandada por Cândido de Oliveira encontrou dificuldades face aos seus principais rivais com derrotas contra o Vasco da Gama (2-1 e 4-1), contra o Fluminense (2-1) e contra o Botafogo (1-0 e 4-2), o que precipitou a sua saída. Ao todo, Cândido participou em 13 jogos junto a equipa vermelha e preta, tendo conquistado apenas quatro vitórias.
Na sua saída, o treinador não guardou ressentimentos. “Não estou desanimado, foi uma experiência de vida que recordarei por muitos e bons anos”, afirmou na despedida, como citado pelo Jornal I. Antes de regressar a Portugal, ainda aproveitou alguns dias para explorar mais o Brasil.
Cândido de Oliveira começou a carreira como futebolista no Benfica, em 1914, mas foi no Casa Pia, clube que ajudou a fundar em 1920, que cimentou o seu estatuto. Era um médio-centro de grande qualidade, considerado um dos melhores da sua época. O seu papel foi muito além das quatro linhas, já que também teve um papel fundamental na criação da seleção nacional portuguesa, tendo sido o seu primeiro capitão em 1921, na histórica estreia contra a Espanha.
Ao pendurar as chuteiras, dedicou-se à carreira de treinador e tornou-se uma referência no futebol português. Destacou-se no Belenenses e no Sporting, onde levou a equipa ao título nacional comandando o lendário plantel dos “Cinco Violinos”. Também orientou a seleção portuguesa, conduzindo-a aos quartos de final dos Jogos Olímpicos de 1928.
Firme opositor do regime fascista de Salazar, pagou um preço elevado pela sua postura política. Em 1942, foi preso e enviado para o campo de concentração do Tarrafal, onde ficou detido durante 18 meses. A sua resistência e integridade tornaram-no num símbolo da luta pela liberdade.
No jornalismo, também deixou um legado duradouro. Foi um dos fundadores do “A Bola“, um dos jornais desportivos mais influentes de Portugal.
Cândido de Oliveira faleceu a 23 de junho de 1958, em Estocolmo, enquanto cobria o Campeonato do Mundo para A Bola. Em sua homenagem, a Federação Portuguesa de Futebol batizou a Supertaça com o seu nome, perpetuando a memória de um dos maiores nomes do futebol português.
A sua passagem pelo Flamengo pode não ter sido a mais marcante da sua carreira, mas simboliza a forma como a sua influência atravessou fronteiras, consolidando-o como uma das figuras mais importantes do futebol mundial.
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